segunda-feira, 7 de março de 2011

Próximas apresentações da Via Crucis

Dia 16 de Abril, às 20h.


ABRIL MAIS CULTURA VIVA


Rua Graciosa, 300 - Centro - Diadema


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Dia 14 de Maio, às 20h


MOSTRA DE TEATRO DO PONTO DE CULTURA QUILOMBAQUE


Travessa Cambaratiba, 05. (Beco da cultura)

Ao lado da estação Perus da linha 07/Rubi da CPTM - Perus - São PAulo

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

NOVA TEMPORADA

Nova temporada do espetáculo

VIA CRUCIS - A PAIXÃO NOSSA DE CADA DIA

na cidade de Francisco Morato.

de 19/02 a 27/02
Sábados e Domingos, às 20h.

Auditório Don Paco Cultural
Último andar do Shopping Casa Grande, Rua Gerônimo Caetano Garcia, 70 - Centro.

É com grande prazer que apresentamos o espetáculo na cidade de Francisco Morato, uma vez que parte importante do processo criativo da obra deu-se na cidade.
Mesmo as personagens da história poderiam, tranquilamente, ser moradoras da região.
Transformamos o espaço gentilmente cedido pela Pro-Morato e pela Don Paco em um ambiente diferente, propício a receber nossa fábula.

Esperamos a presença de todos que estejam interessados em viver dignamente.


quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

VIA CRUCIS

A paixão nossa de cada dia... É o nosso fazer teatral.
Nossa motivação diária e também motivo de nossas angústias.
Acreditamos que o objetivo fundamental do teatro é retratar a sociedade que o cerca com suas dificuldades e maravilhas. É este fazer teatral que tomamos como o Sagrado em nossas vidas, objeto de culto e veneração.
Teatro não precisa gerar renda.
Através desse ato, perguntamos ao mundo contemporâneo: que é sagrado hoje? Há espaço para o Sagrado na moderna sociedade de consumo? Onde? Como?
Perguntas que atinjam a estrutura de nossa sociedade.

Pois de respostas, o mundo está cheio.
Faltam perguntas, que nunca virão.

Desejamos trazer à vista essa corrida maluca e desinvinsível e saber o que as pessoas pensam sobre tais aspectos, como o consumo desenfreado e a busca por lucros cada vez maiores.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Semana ELT em Alerta!

Um momento livre. E lindo.
Ontem, dia 23 de setembro de 2009, na Escola
Livre de Teatro de Santo André.
Foi mais um dia de movimentação e força, para preservar a instituição que vem sendo atacada pela atual administração da prefeitura de Santo André.
Para quem não sabe, o coordenador pedagógico da escola (eleito pela própria comunidade ELT), Edgar Castro, foi demitido sem justa causa. Sem causa alguma.
Toda a descrição do ocorrido pode ser encontrada detalhadamente no BLOG do movimento.

http://movimentolivre-sa.blogspot.com/

A programação de ontem a noite foi encantadora. Primeiro, duas coreografias de dança indiana, em homenagem a luta na ELT, feitas pelo Tiago. Depois, ele ainda fez a tradução livre de uma oração para SHIVA, onde pedia FORÇA, INTELIGÊNCIA e HABILIDADE, para enfrentar a batalha.
Foi lindo.

Em seguida, foi a vez do incandescente cantor Rubi. E ele nos recebeu, com violão desligado e sem microfone, desfilando o corpo e a doce voz no palco do teatro Conchita de Moraes. Antes de começar o show, uma moça que estava ao meu lado gritou:
- Rubi, eu te amo! Eu sempre quis te dizer isso cara, e agora eu tive a oportunidade. Te amo.
Ele agradeceu e cantou. Cantou e levou ainda o apoio e a música de diversos artistas, como Itamar Assumpção, Paulo Leminski, Chico César, Gero Camilo, Tatá Fernandes, entre outros.
Assim, descontraído, assim, e intenso.




Foi um momento único. Quem esteve, viveu.

E logo após começou a mesa de bate-papo, com Luis Alberto de Abreu e Chiquinho Medeiros, ambos “ex-mestres” (se é que existe isso...) da escola, atualmente afastados. De última hora, o professor Antônio Rogério Toscano foi convidado para subir ao palco. Depois de “obrigado” pela plateia, ele subiu.
Primeiro falou Abreu, durante 15 ou 20 minutos. Depois Chiquinho.
Foi um banho de lucidez. De luz.
Iluminação de caminhos.

O processo pedagógico LIVRE da escola livre
foi exposto e, depois de exposto, nem carece de ser defendido.
Um trabalho horizontal em tempos verticais.
Um trabalho onde todos se encontram no mesmo plano.
Horizontal, sim, pois não há degraus que separem aprendizes e mestres.
E toda a responsabilidade que o nome da escola carrega, por ser escola LIVRE de teatro.
E tudo isso depois foi aberto para discussão, e desabafo de alguns que já estão devidamente cansados do não diálogo com as instâncias políticas.
O amoroso (doloroso) combate de resistência.
Não caberiam aqui todos os pontos lindamente discutidos e abordados ontem, mas fica o registro de um acontecimento ímpar.
Talvez o que, no futuro, venha a ser conhecido como o melhor momento da ELT.
Pois no presente já o é.

A Cia. Teatro de Segunda-Feira apóia incondicionalmente a comunidade da Escola Livre de Teatro, pois acredita, artística e pedagogicamente, na Liberdade reclamada por seus integrantes.

Liberdade, essa, que treme a terra sob os pés dos que não são livres.















Alunos da EAD/USP também estiveram presentes

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Sublime revolta já antiga.....

Ode trinfal

À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Em febre e olhando os motores como a uma Natureza
[tropical -
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força -
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes
[eléctricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do
[século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos
[e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um acesso de carícias ao corpo numa só carícia
[à alma.

Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-
[modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!

Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de
[transmissão!

Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés - oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do
[Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos de estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos!
Actividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Piccadillies e Avenues de L'Opéra que entram
Pela minh'alma dentro!

Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la foule!
Tudo o que passa, tudo o que pára às montras!
Comerciantes; vários; escrocs exageradamente bem-vestidos;
Membros evidentes de clubes aristocráticos;
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente
[felizes
E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete
De algibeira a algibeira!
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!
Presença demasiadamente acentuada das cocotes
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?)
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,
Que andam na rua com um fim qualquer;
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos;
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra
E afinal tem alma lá dentro!

(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!)

A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!

Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes -
Duas colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraître amarelos como uma cinta branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto
E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!
Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos
[escritórios!

Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó últimos figurinos!
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias secções!
Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem!
Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é
[diferente de ontem!
Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos!
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!

Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente.
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma actual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!

Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks,
Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes -
Na minha mente turbulenta e encandescida
Possuo-vos como a uma mulher bela,
Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não
[se ama,
Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima.

Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas!
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios!
Eh-lá-hô recomposições ministeriais!
Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos,
Orçamentos falsificados!
(Um orçamento é tão natural como uma árvore E um parlamento tão belo como uma borboleta).
Eh-lá o interesse por tudo na vida,
Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras
Até à noite ponte misteriosa entre os astros
E o mar antigo e solene, lavando as costas
E sendo misericordiosamente o mesmo
Que era quando Platão era realmente Platão
Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro,
E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele.

Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher
[possuída.

Atirem-me para dentro das fornalhas!
Metam-me debaixo dos comboios!
Espanquem-me a bordo de navios!
Masoquismo através de maquinismos!
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!

Up-lá hô jockey que ganhaste o Derby,
Morder entre dentes o teu cap de duas cores!

(Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta!
Ah, olhar é em mim uma perversão sexual!)

Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas.
E ser levado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!

Ó tramways, funiculares, metropolitanos,
Roçai-vos por mim até ao espasmo!
Hilla! hilla! hilla-hô!
Dai-me gargalhadas em plena cara,
Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas,
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,
Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como
[quereria!

Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo
[isto!
Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro,
As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam,
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu
[quarto
E os gestos que faz quando ninguém pode ver!
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva,
Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas
Nas ruas cheias de encontrões!

Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos - e eu acho isto belo e amo-o! -
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada.
A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa
Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão.
Maravilhosamente gente humana que vive como os cães
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!

(Na nora do quintal da minha casa
O burro anda à roda, anda à roda,
E o mistério do mundo é do tamanho disto.
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente.
A luz do sol abafa o silêncio das esferas
E havemos todos de morrer,
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo,
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa
Do que eu sou hoje...)

Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ónibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de
[todos os comboios
De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das
[docas.
Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado!
Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores!

Eh-lá grandes desastres de comboios!
Eh-lá desabamentos de galerias de minas!
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos!
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões,
Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim,
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa,
E outro Sol no novo Horizonte!

Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico,
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.
Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar,
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos,
Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar,
Engenhos brocas, máquinas rotativas!
Eia! eia! eia!
Eia electricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Eia! eia! eia!
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!

Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios.
Eia! eia-hô! eia!
Eia! sou o calor mecânico e a electricidade!

Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!

Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!

Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!

Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!



Londres, 1914 - Junho.

Fernando Pessoa
Álvaro de Campos